JORNAL BOA VISTA
Um espaço onde todos possam ir e vir de acordo com as suas diferenças e necessidades. Que consigam se deslocar com facilidade, que o acesso não seja restrito. Um Erechim com oportunidades iguais, de crescimento abrangente. Uma cidade que respeite as diferenças, que não apenas eduque, mas que inclua. Um Erechim igualitário, que conviva com todos os tipos de necessidades especiais. Que busca inovar e garantir uma melhor condição de vida aqueles que realmente necessitam.
O Jornal Boa Vista entrevistou diferentes pessoas, que convivem e fazem parte da realidade de um portador de necessidade especial.
AnaAna Paula Martini tem 12 anos, é portadora de deficiência física desde que nasceu. Uma menina ágil, independente e encantadora. Em sua cadeira de rodas se desloca com facilidade, realizando as atividades escolares e do dia-a-dia. Ana Paula utiliza o transporte adaptado para ir até a escola, dessa maneira tudo fica mais fácil. Ana relata: “Ir até a escola ficou bem mais fácil, ninguém mais precisa me carregar no colo. O motorista me deixa no estacionamento dos professores. Minha sala fica no térreo, assim não me atrapalha no acesso. Tenho 34 colegas, mas sou a única com cadeira de rodas, mas é divertido, quando estou cansada minhas amigas ajudam empurrar a cadeira. Sou bem disposta, faço aula de dança três vezes por semana. Já aprendi dançar vários estilos musicais, danças árabes, lambadas e também forró. Realizo também sessões de fisioterapia, duas vezes a semana”. Ela ainda comenta: “Sou estudiosa também, procuro caprichar em meus trabalhos e minha média não baixa de sete e oito”.
Família MartiniLenir Bobco Martini é a mãe da Ana Paula, portadora de deficiência física. Lenir, sua filha mais velha e seu esposo, são o alicerce da vida da Ana. Uma família unida, que busca inserir a Ana Paula na sociedade e constituir uma cidade de fácil acessibilidade. Lenir enaltece: “Como mãe de portadora de deficiência física, encaro como se ela fosse uma pessoa normal, porque é assim que eu a vejo. Mas infelizmente nos dias de hoje, ainda existe a descriminação por parte de alguns. Minha filha é muita amada e respeitada pela nossa família. Na verdade, ser mãe de portadora de deficiência física é uma missão divina. A alegria de viver é um dos combustíveis da nossa alma e isso a Ana Paula tem para dar e vender. Nem todos os momentos foram de alegrias, pois minha filha realizou muitas cirurgias e ainda hoje nos deslocamos com freqüência a Porto Alegre. Hoje ela está muito bem, os cuidados e as precauções são necessárias e eu já sei como proceder com ela”. Lenir finaliza dizendo: “Não maltrate a cadeira de rodas de um paraplégico, pois estará maltratando as pernas dele. Respeite as diferenças e se coloque no lugar daquele que necessita de cuidados especiais”.
José Augusto Deggerone é o atual motorista do transporte escolar adaptado, realizando este trabalho há nove meses. José conta a sua experiência diária: “Para as crianças é uma alegria ir à escola. Conheço um pouco da história de cada um e posso acompanhar a evolução de cada criança. Fico admirado também com os pais, percebo que existe muito amor e cuidado por parte deles com seus filhos. A maioria das crianças são carentes, realmente precisam desse serviço. O bom é perceber que as escolas estão se adaptando conforme a necessidade dos alunos. Algumas se adaptaram realizando a troca de portões de elevação, por eletrônicos ou de correr”. José é um motorista muito atencioso e querido pelas crianças, que mesmo sem visão já o reconhecem pelo cheiro e o toque.
AnacletoO Secretário de Educação Anacleto Zanella, tem por objetivo construir uma escola para todos: “O município de Erechim assinou o compromisso todos pela educação e aderiu ao PAR (Plano de Ações Articuladas do Ministério da Educação). Por estes compromissos aderimos a política nacional de que está na constituição, na LDB e que foi reafirmada na Conferência Nacional de Educação, a CONAE que teve a sua etapa regional no ano passado e a etapa nacional este ano, em abril. O compromisso visa, que não podemos mais constituir uma escola que separe as crianças, precisamos incluí-las. Respeitar suas diferenças, ou seja, as crianças especiais devem ser atendidas no espaço da escola, na escola de todos. Para isso nós precisamos garantir um transporte adequado, acessibilidade e um atendimento de qualidade. É necessário também, o atendimento diário nas escolas com professores de apoio e atendentes. Crianças, adolescentes, jovens ou adultos especiais, devem ter as mesmas condições daqueles que não sofrem nenhum tipo de deficiência. Aos poucos as escolas estão sendo adequadas, assim como, a escola Luiz Badalotti no Bairro Atlântico e a Escola Paiol Grande no bairro Paiol Grande, que vão dispor de elevador. Também, uma plataforma de acessibilidade esta sendo construída na escola de Educação Infantil Estevão Carraro, no bairro Estevão Carraro. São três escolas que estão recebendo obras para garantir o acesso. Além disso, temos as salas multifuncionais que estão sendo adaptadas, por meio do Ministério da Educação. Uma sala já está instalada na escola Luiz Badalotti e outras vão ser montadas nas cinco escolas de ensino fundamental. Vamos receber também, uma sala multifuncional na escola de Educação Infantil São Cristovão, em função de uma criança com deficiência visual. Cada escola vai ter que receber e atender todas as crianças, esse é o grande objetivo da educação”. Anacleto destaca a assistência as famílias: “Quanto às famílias a resposta tem sido muito boa, ficam felizes a partir do momento que conseguimos atende-las, tanto no transporte, como também no atendimento diário na escola. Precisamos oferecer a educação de qualidade e o apoio da família é muito grande. Ainda tem muito que fazer, sabe-se que ainda nem tudo está adequado, desde os prédios, na formação de professores, funcionários e no envolvimento familiar. Para facilitar a vida de muitas famílias que não dispõe de carro, um transporte adequado foi adquirido. O mesmo circula pelo turno da manhã e tarde, de acordo com o horário escolar de cada aluno, transportando em média dez alunos ao dia. Transporte este que está em circulação a pouco mais de um ano, facilitando a vida dos alunos e seus familiares”. O Secretário da Educação finaliza dizendo: “A questão da inclusão é muito maior que o espaço da escola, todos os espaços deveriam já estar adequados. Temos que construir a cidade que educa, que inclui, a cidade para todos!”.
DeiseA coordenadora pedagógica Deise Rigon, fala das inovações e da equipe multidisciplinar que busca atender as necessidades de cada criança. Deise relata: “Temos uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, psicopedagogas, fonoaudiólogas e uma enfermeira. É realizada uma avaliação para adequar a criança ao espaço correto e saber em que escola será feito o encaminhamento. Nas escolas professores capacitados realizam as atividades de acordo com cada criança. Dependo do caso o atendimento é diferenciado. As salas que aos poucos estão sendo liberadas pelo MEC são inovadoras, para trabalhar com todas as deficiências. As escolas já dispõem de professores de apoio, sala de recursos, para que todos tenham atendimento conforme as necessidades. O mais importante é incluir a criança desde que ela é pequena, para que ela possa se adequar a novos ambientes”.